Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera
Assisti a esse filme coreano duas vezes… na verdade, em ambas as ocasiões perdi o começo… rsrs. Foi na TV por assinatura, mas já encomendei o DVD. Apesar desta ótima sinopse num site especializado, posso adiantar que o filme se passa em um pequeno monastério flutuante sobre um lago, onde vivem um velho monge e seu jovem aprendiz. Enquanto o menino cresce, explora os arredores e deixa-se levar por seus impulsos.
Porém, o mestre sempre está pronto para ensinar suas lições, e mostra para o garoto que as consequências de pequenos atos podem durar a vida toda. Cada estação do ano mencionada no título representa um lindo paralelo em relação ao desenvolvimento espiritual e emocional do jovem monge. Se a primavera caracteriza esse registro de infância, o verão apresenta a explosão da vitalidade e a descoberta da paixão. O outono nos mostra os frutos (nem sempre doces) dessa mesma paixão, e o inverno trata da vida após a colheita. Mas, como diria José de Alencar, “tudo passa sobre a terra”, e chega uma nova primavera para fechar o filme e renovar o ciclo da vida. É uma obra repleta de metáforas, belíssima, e que nos traz o conceito budista da “roda da vida”, a sucessão de experiências pelas quais precisamos passar, na existência terrena, para nossa ascensão espiritual.
O que esse filme tem a ver com meu desenvolvimento mediúnico?
Bem, já mencionei a incompatibilidade entre meus horários de trabalho e o horário dos trabalhos de desenvolvimento. Nunca pensei em desistir: apenas tentava resolver a questão profissional.
Enquanto isso, os meses se foram. Hoje, olho para trás e me pego recordando como foi essa passagem de tempo. A Casa nas noites de calor, as chuvas, os temporais… o vento frio das noites de inverno (e como o aconchego do abaçá parece diminuir o frio…). Frequentadores que começaram a aparecer, outros que sumiram, outros que levaram seus filhos pra batizar. As datas festivas. O recesso de fim de ano. O sistema de som que pifou. É mais ou menos como as sensações que experimentamos a cada vez que voltamos à casa da nossa família, depois que crescemos e ganhamos o mundão, um misto de carinho e nostalgia.
Em paralelo, também penso em como eu tenho me transformado. Como tenho me sentido feliz e em paz, um pouco (pouquinho) menos rabugenta, um pouquinho (pouquíssimo) mais paciente. Penso em como um dia, depois de uma faringite, resolvi ficar sem fumar enquanto pudesse aguentar, e isso já dura sete meses; também penso que, nesse mesmo dia, achei que era melhor deixar de comer carne. Na verdade, não resolvi nem achei coisa nenhuma: da forma como a coisa foi abrupta e definitiva (um dia, ainda conto minhas aventuras no mundo vegetariano e não-fumante), acho mesmo é que a Espiritualidade apertou algum botão, e entrei no modo “carne-off”, “cigarro-off”.
Não, não tô virando santa, não. Muito pelo contrário: sempre peço, em oração, pra resmungar menos, pra criar vergonha e cuidar melhor da saúde, pra me descabelar menos no trânsito, pra dar um jeito nesse orgulho pavoroso… O que quero dizer é que, mesmo com esses cacarecos, estou lutando pra melhorar, pra incomodar menos, pra pesar menos na contabilidade terrestre. Acho que, nesse processo, ter encontrado a Umbanda é um diferencial indiscutível, então é muito natural a sensação de “fim de semana na casa dos pais” a cada gira.
Tudo tem seu tempo certo; esperar pela oportunidade de iniciar meu desenvolvimento me trouxe a chance de estudar, de amadurecer… e também de me afeiçoar à Casa com um amor que só a casa da gente desperta.