Release do Cd “UmBanda em Nós”
O cd “UmBanda em Nós”, de Liz Hermann, é tão bom que estou atualizando minha opinião neste post. Chegou rápido, numa embalagem segura e bem protegida. É uma produção altamente profissional, da qualidade da gravação ao material gráfico e tudo o mais. A voz de Liz é um encanto, e as composições de sua filha Aline são inspiradíssimas. Os arranjos são preciosidades, executados por um grande time de músicos. Ótima opção para quem gosta de bom samba (samba de verdaaaade, não de umas coisas meio estranhas que aparecem de vez em quando) e para quem quer uma alternativa aos pontos cantados . É tão bom que pensei em destacar algumas faixas, mas não deu: sou obrigada a comentar todas!
Dona da Pureza é um belo cartão de visita: a figura adorável e formosa de Oxum - o botão de rosa dos orixás - foi escolhida para apresentar esse cd; a qualidade do samba já se faz perceber e anuncia o trabalho de qualidade que vamos ouvir.
A combinação de cordas e percussão em Mareá Marinheiro lembra as canções elegantes e dolentes de Caymmi. “Tenho seu semblante no braço/ e o seu carinho no coração”… dá até nó na garganta. Composição classuda demais!
A nuance marcadamente intimista de Odoyá é uma escolha de ótima cumplicidade para homenagear a orixá das nossas dores mais secretas e pungentes. O backing vocal de Francine Lobo aperta de vez o tal nó na garganta. Seguramente, uma das melhores faixas deste cd.
Depois de uma experiência pessoal muito ruim, em Salvador, pensei em nunca mais voltar. Ouvir Salve os Baianos me fez mudar de idéia; a cuíca, o violão (excepcional), a flauta e a percussão dão um tom alegre e empolgante a essa canção. A introdução, com berimbau, é uma perfeição.
A flauta e o cavaquinho que permeiam Cantos Ciganos marca a brejeirice dessa composição. A letra é de uma sutileza muito interessante.
Leva daqui é uma ótima pedida pra espantar o baixo astral e pra ouvir a caminho do trabalho (ou do dentista; ou do banco… enfim, leva embora a ziquizira de vez!).
Em Jurema, uma batida animada homenageia essa cabocla, finalizando com um coro arrepiante: “Bate o pé no chão/deixe o corpo balançar/sinta a força de Oxóssi/que veio pra ficar”. E fica mesmo!
Jorge Guerreiro me fez lembrar dos grandes sambistas do Rio de Janeiro; a bênção, meu pai!
Patuá de Oxalá traz o refrão “Aqui tem/aqui tem Orixá/ quem não pode com mandinga/ nem carrega patuá”, que simboliza a força interior dos filhos-de-fé, aquela que só quem tem é que sabe. Palmas ritmadas enriquecem seu trecho mais emocionante.
Um sambão saboroso, bem à moda de um Martinho da Vila, homenageia o povo do cativeiro, em Roda de sinhá; dá até pra imaginar a pretinha velha chegando ao som delicioso do trombone. Salve o povo de Yorimá!
Filho de Xangô consegue apresentar a força dessa figura poderosa, sem a sisudez com que às vezes é vista; destaque para o pandeiro e o trombone cheios de bossa.
Fiquei ouvindo Deusa dos Ventos morrendo de saudade da Clara Nunes; pra mim, pelo menos, essa faixa não homenageia apenas Iansã, mas a nossa saudosa guerreira.
Como filha de Yori, quase me sentei no chão ouvindo Alegria de Erê, que combina trechos de cantigas infantis com a homenagem às Crianças. Coisa de gênio.
Em Rainha do Poder, a figura fascinante da Pomba-gira vai girando numa cadência charmosa.
Os sambas de conteúdo rico e reflexivo de Paulinho da Viola foram a primeira coisa de que me lembrei ao ouvir Sou a Porta; o backing vocal é uma atração à parte, e me troxe a forte lembrança dos sambas que eu ouvia na infância, na década de 70. Bons tempos…
Eu vou, eu vou conta a trajetória de um filho de Umbanda. Apesar de não ter passado por isso (eu? ‘maginaaaa, de jeito nenhum, nenhunzinho…), indico a faixa pros irmãos na fé: simplesmente impagável!
O cd está à venda no site da Liz Hermann. Antes que alguém pense que este post é jabazístico, lembro que este blog não é monetizado, e convido qualquer leitor mais desconfiado a discordar desta postagem, após ouvir o cd: vai acabar concluindo que a “rasgação de seda” não é exagero nenhum.